Temos um país com mais de 200 milhões de habitantes, uma das maiores economias do mundo e destaques em diversas frentes. No entanto, quando começa a aparecer grandes polêmicas percebe-se uma grande falha: atualização de dados.
O francês Thomas Piketty lançou em 2014 um livro, intitulado O Capital no século XXI, que causou uma grande movimentação no mundo econômico. Para alguns foi o principal livro de economia que faz um diagnóstico do capital no mundo do século XXI. Quando se lê este livro percebe-se que o nome do Brasil foi citado apenas três vezes, sempre relacionado com os países dos BRICS. Em uma entrevista o autor foi perguntado o porquê não tinha dados econômicos do Brasil, ele responde não teve acesso aos documentos oficiais brasileiros.
No final de 2016, o agronegócio brasileiro foi centro de uma grande discussão entorno da importação de café verde de outros países. A decisão foi suspensa quando a Frente Parlamentar da Agricultura fez um apelo ao Ministro da Agricultura, interpelando com o argumento simples: no Brasil tem café estocado e não há necessidade de importar. O Ministro não teve outra alternativa, teve que suspender a decisão porque não tinha os dados sobre a real situação dos estoques de café brasileiro.
Agora, já em 2017, houve um massacre gigantesco no Amazonas e, posteriormente, em outros Estados brasileiros. O Governo não tinha dados sobre a população carcerária, nem mesmo o Ministro da Justiça se contradize ao chamar de mentirosa a governadora de Roraima e depois da declaração o jornal O Globo publicou o ofício enviado pela governadora, provando que a mentira estava com o Ministro.
O Censo Agropecuário que deveria ter ocorrido em 2016, não aconteceu. Com isso, os dados oficiais do Governo Federal sobre o agronegócio brasileiro é de 2006, ano da morte dos ditadores Augusto Pinochet e Sadam Hussein. O Facebook e Orkut tinham apenas dois anos de fundação. Nestes onze anos sem Censo Agropecuário o mundo mudou e os dados passou a ser a principal ferramenta para quase tudo, principalmente, na tomada de decisão e para a publicidade.
Os assuntos parecem aleatórios, mas na verdade tem uma ligação muito preocupante. Será que Piketty não conseguiu os dados brasileiros porque os mesmos não existiam de forma organizada? Veja, em ambos os casos escancara uma falta de organização de informações por parte do poder público. A iniciativa privada teve uma evolução muito grande e muitos países também tiveram uma grande evolução neste quesito.

A atualização de conceitos e a busca pelo melhor que há no mercado para filtrar e utilizar da melhor forma essa imensidão de dados existente fazem parte das tarefas essenciais para crescimento e sobrevivência no mercado. Dentro do agronegócio não é diferente. Em Piracicaba (SP), há um grupo de estudantes, pesquisadores e empreendedores desenvolvendo e disponibilizando ao mercado agro uma série de aplicativos para a gestão rural. A AgTech Valley concentra na cidade paulistana 18,6% das startups voltadas ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro. No ES, a Secretaria de Agricultura levanta essa bandeira da inovação, mas ainda é cedo, pois depende muito do interesse dos empresários rurais capixabas.
Texto publicado originalmente na edição 302 do Jornal Nova Notícia, em Santa Maria de Jetibá-ES
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